África: Moscovo prepara-se para “atacar” países lusofonos

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A Rússia vem intensificando suas relações com as ex-colônias portuguesas em África, evidenciado recentemente pelo acordo de cooperação militar assinado com São Tomé e Príncipe.

Este acordo destaca uma tendência crescente da diplomacia russa em consolidar sua influência nos países de língua portuguesa no continente africano. Segundo especialistas, esta estratégia pode enfraquecer ainda mais as relações entre Portugal e suas antigas colônias, beneficiando a Rússia que busca estender sua presença geopolítica e econômica na região.

O acordo, que entrou em vigor no início de maio, não apenas envolve treinamento militar conjunto e recrutamento de forças armadas, mas também permite a presença de aviões e navios de guerra russos em São Tomé. Além disso, a cooperação inclui suporte na educação e formação de pessoal, bem como assistência logística e compartilhamento de informações para combater ideologias extremistas.

Esta não é a primeira vez que São Tomé e Príncipe se alia à Rússia. Durante o período colonial, a União Soviética já apoiava diversos movimentos de independência africanos, incluindo o arquipélago. Após a independência, a influência soviética e posteriormente russa permaneceu, com São Tomé recebendo armamento e assistência militar russa. Mesmo após décadas, o exército de São Tomé continua utilizando predominantemente armamentos de fabricação soviética.

A crescente presença russa em África, especialmente após o início do conflito na Ucrânia, inclui a exploração de recursos naturais e o fornecimento de “pacotes de sobrevivência” aos regimes políticos locais em troca de acesso a esses recursos. A influência russa também se estende a outras regiões de África, com atividades significativas no Sahel, onde a Rússia tem substituído a influência francesa ao oferecer apoio militar e mercenários a governos locais.

“É possível que o Kremlin queira expandir a sua influência em Moçambique. O país tem sérios problemas no Norte, na região de Cabo Delgado, e a Rússia pode prestar auxílio nesse sentido. Têm grupos de mercenários muito capazes de ajudar e Portugal não é capaz de ajudar de forma semelhante”, destaca Tiago André Lopes à CNN Portugal.

 O professor universitário realça também a política diplomática do Kremlin durante a covid-19 em relação a África. Durante o início da campanha de vacinação, a Rússia de Vladimir Putin disponibilizou milhões de vacinas Sputnik para o continente muitos meses antes de o Ocidente seguir o mesmo caminho. Tiago André Lopes considera mesmo que este caso deixa a nu a “ineficácia” da diplomacia portuguesa e acrescenta que o Ministério dos Negócios Estrangeiros não terá “coragem” para condenar esta decisão formalmente.

“Há claramente um corte cada vez maior com Portugal”, defende, sublinhando que Portugal utiliza a Comunidade dos Países da Língua Portuguesa como “arma diplomática”, apesar de a instituição estar já bastante fragilizada desde 2015, quando a Guiné Equatorial entrou no grupo de países.

“Este acordo pode colocar em causa a CPLP. O Governo português tem de tomar decisões sérias e pensar com o que está a fazer. Qualquer cooperação com a Rússia não pode ser bem vista. A relação privilegiada com a Rússia com estes países vai quebrar o espírito de comunidade dentro da CPLP”, defende Isidro de Morais Pereira.

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