Crenças e superstições dificultam acompanhamento de autistas

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Assinala-se a 2 de Abril o dia de sensibilização para o autismo. Em Angola este ano, dia 12, deve, mesmo, estrear um filme alusivo. “Íris o mergulho no mundo dos autistas”, sobre a história de Íris André, co-fundadora da organização “Coração azul Angola” e mãe de uma criança autista. Esta admite serem inúmeras as dificuldades com que se deparam os autistas no seu país, incluindo crenças e superstições.

O dia de sensibilização para o autismo existe desde 2007 por iniciativa da ONU (Organização das Nações Unidas).

Em causa está o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Uma situação caracterizada, entre outras manifestações, por dificuldade de interacção social e presença de comportamentos repetitivos. Apresenta diferentes graus, classificados de leve a grave.

É fundamental a propagação de uma informação de qualidade para melhor se perceber em que consiste este transtorno, por forma a acabar-se com o preconceito e a discriminação de que padecem, frequentemente, os autistas por terem uma forma diferente de agir e de se comportar.

Íris André, co-fundadora da organização “Coração azul Angola” é mãe de uma criança autista.

A sua experiência é retrada, mesmo, num filme que deve estrear dia 12 em Angola. Ela começa por se referir às dificuldades com que se deparam os autistas no seu país.

Lidar com o autismo em Angola todos os dias é difícil, é extremamente difícil, porque nós ainda.. O autismo… só se começou a falar há 12 anos. Estamos a falar do autismo praticamente de há 12/14 anos, com o aparecimento da primeira organização da qual fiz parte.

E desde este período até à data actual, nós temos feito algumas actividades no sentido de sensibilizar a sociedade angolana em torno do autismo. Porque para nós, africanos, as doenças do foro neurológico é muito associada às questões culturais e religiosas, o que acaba criando muita dificuldade no tratamento das mesmas.

Porque muitas crianças,  muitas vezes, são acusadas de possuídoras de espíritos, umas a ter as suas mães são acusadas de feiticeira pelo facto de terem nascido uma criança com deficiência. E sendo o autismo pela característica, pela forma única de ser do autismo, que é complexa… Sabemos que o autismo é um dos transtornos mais complexo do foro neurológico.

Então aquilo que são as crenças é muito trazida aqui à ribalta, o que dificulta no tratamento das mesmas. Porquê? Porque não temos instituições vocacionadas. Desde o diagnóstico é extremamente difícil ter o diagnóstico de autismo pelo facto de não termos especialistas !

Refere-se a neuropediatras.

A neuropediatras. Há escassez de neuropediatras, há escassez de terapeutas da fala. Porque há escassez de terapia ocupacional. O que se torna muito difícil, Porque acabamos dependendo de especialistas expatriados. E com a situação actual em que nós vivemos, escassez de recursos financeiros, tem feito com que muitas famílias não tenham possibilidade de levar os seus filhos, às terapias e muitas mesmo que nunca tiveram nenhuma consulta de avaliação, porque as instituições públicas quase que não têm resposta a dar. Então, só dentro dessa informação, as famílias que têm filhos com autismo têm uma vida extremamente difícil !

Conhece casos de crianças que são rejeitadas pelos familiares porque não percebem exactamente aquilo que lhes está a acontecer ?

Sim, sim. O ano passado ainda tivemos um caso de uma criança que foi morta pela mãe e pela tia porque o pastor disse que essa criança era possuídora de espíritos malignos e no final de tudo, quando foi-se descobrir, a criança apresentava características de autismo. A ausência do diagnóstico, a ausência do acompanhamento após o diagnóstico, tem criado dificuldade ao cuidado destas pessoas.

E não se tem noção de quantas crianças é de que estamos a falar em relação ao autismo, de quantas pessoas vivem com o autismo ? Não se tem nenhuma noção ?

Tem-se alguma noção: São por aí 575.000 crianças em Angola e 157.000 residentes em Luanda, esta é a população. Mas estes dados ainda não são dados concretos. Acredito que deve haver mais crianças dentro do espectro. Nós ainda não temos esse dado assim concreto, porque não há estudo ainda para aferir quantas pessoas têm autismo em Angola. A nossa organização tem feito actividade no sentido de sensibilizar. Este ano nós vamos fazer a apresentação de um filme que é a minha história, que é “Íris: O mergulho no mundo dos autistas” fala das questões de vivência do que é o autismo em Angola. E nós vamos fazer a apresentação do filme no dia 12, num dos cinemas de Luanda.

Fonte: RFi

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